"Dou aulas há mais de 20 anos e nunca tive um aluno que fosse incapaz para a matemática. Já tive muitos que não ligavam à disciplina, mas nunca gente incapaz", recorda Fernando Nunes, docente da disciplina e presidente da APM. "Alguns orgãos de comunicação social até insinuam que os portugueses não são muito dotados nessa área. Não há nenhum dado científico que mostre isso! E a crise do ensino da matemática é planetária e não se passa só em Portugal!" mesmo a média dos exames nacionais do 12º ano, que ronda os 9,3 valores, não é largamente ultrapassada pelos nossos vizinhos europeus, afirma o presidente da APM.
Mas será verdade que os miúdos não gostam mesmo de matemática? Fernando Nunes adverte que, primeiro, há que definir 'miúdos'. "No pré-escolar e no primeiro ciclo não há grande rejeição e as crianças não têm problemas em com conteúdos matemáticos. Ela surge no 2º Ciclo (5º e 6º ano) e vai-se agravando nos anos seguintes. Temos mais notícias do ensino secundário, por causa dos exames nacionais. Talvez por isso as pessoas estejam convencidas de que a maior parte dos jovens não gosta de matemática.2
E quais as razões para esta antipatia?
"A matemática é apresentada de uma forma dura, como um instrumento de exclusão e selecção", diz Fernando Nunes. Uma disciplina que os alunos vêem como 'elitista', numa sociedade em que só os muitos inteligentes sobrevivem academicamente.
Outra das razões é a necessidade que os professores têm em apresentar esta ciência pelo ponto de vista da abstracção. O problema é que muitos alunos ainda precisam de exemplos concretos, de visualizar como é que as coisas se fazem, porque o raciocínio abstracto está ainda em formação. E os jovens têm dificuldade em perceber que, aquela disciplina chata que parece que nunca na vida lhes vai servir para alguma coisa, pode ser muito útil dentro de dois ou três anos. "Como professores, devemos preocupar-nos em apresentá-la como algo que possa ter significado na vida quotidiana dos alunos. Temos também que lhe dar uma componente de jogo, que lhes dê prazer." E o presidente da APM frisa ainda que, em vez dos professores privilegiarem a memorização de conceitos, deviam insistir em novas metodologias e estratégias de ensino.